quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ancestros




Juntos... ouvimos os ecos dos seus passos esta Nobre terra pisar...

Juntos... sentimos, como o nosso tempo estava a findar: vinham pelo Ouro, vinham pelo vil metal... vinham construir estradas, ruas e escadas para os nossos montes onde os antergos descansam... vinham perturbar a paz da terra - harmonia que se sente e se cultiva apenas por aqueles que ainda recordam como se faz...


Há que sentir - no sangue - o eco dos ancestros que nos guarde: que nos oriente e diga - de forma clara e definida - porque as nossas pedras com quartzo sustentavam, as melodias dos próprios tempos - quando as vagas nas raízes das rochas para nós cantavam - as melodias das nossas verdadeiras costas - eidos para além do tempo, pulsando num coração maior do que todos os templos - e que a nós nos fazia com ele palpitar...

Porque escolheria alguém - perante o naufrágio da triste sorte - de cair ajoelhado baixo os pendões da morte - assim da vida se libertar? Porque - longe da melodia - anterga, universal... perdida - os passos firmes e fortes das Co-ortes - levariam o mundo ao desvario abismal... de ter linhas, rectas e tecnologia - sem um centro para erigir e nivelar tamanho mal...

Assim - juntos lutamos: Iberos celtas - de nomes recordados - pelos gestos valentes daqueles que - pungentes - sentiam este vínculo sagardo à terra natal;

Viriatos, Lusitanos, Callaeci... Galaicos... todos hermanados na língua, na tradição do mar, nos verdes campos, nas carvalheiras de outrora, nos nomes de agra - que se estendem desde "Brigantium" - seja ela na Robusta Corunha, seja na Bragantina cidade... seja em Vila Real, seja no Letes que nos quês ocultar - desses olhares ávidos de querer o que não era seu, de poder o que para além daquilo que deviam quiseram possuir...

Ecos dos Verdes Castros - linhagens antergas que perduram - sangues que se mantém fiéis à verdade - de ser a própria terra que os nutra;

Minhos... muñeiras... milladoiros: caminhos dourados para o último passo ao chegar...

Lugares que nos dão vida - palpitação do coração da terra à sua superficie mais singular...



Desde campus stellae... onde as luzes orientem o teu ceu... grito antergo dos Ouriques - que clamam ao conde seu Rei... quam tu Tareja - do Bierzo grande Mãe?... Quem para além do Henrique te foi a ti cortejar?...

Travas de quinas armas... pinhos que nos erguem para lá do chão - suévias que se recordam como fracções escravas, trazidas por romanos para nos colonizar...

Mas - nós - povo antergo - nós vimos todos estes a chegar;

O eco da terra devolve o seu rude pisar... não beijam eles o teu sólo - Jucundo - com a devoção do que sente em cada passo o sangue vivo - sua herança - fluir e palpitar - como as ondas que se esbatem no nossa mar cantábrico... na atlântica ponte a atravessar...

O nosso sangue circula - por este mundo singular - desde este nosso lar antergo - o eterno coração se faz ouvir e notar...

Desde os castros - surgiram os castelos e as povoações a ocupar...

Desde os lugares de transe - nos que o ouvinte a Voz mais grande são sintonia para se saberem um só - surgiram as paredes gravadas orientadas para um novo senhor;



Desde as pedras antergas - que passávamos no escuro do luar - ergueram-se cruzes: as nossas mantiveram o mesmo dizer e o mesmo orientar: seja a estrada de santiago entre os astros - sejam as pisadas das pedras queensinam a andar... nos sabemos qual o nosso nome, sabemos nosso rumo, nossa casa - e como lá chegar...

Demoramo-nos aqui - entre os povos - procurando reconciliar - duas raças que aqui arrivaram - sem entender como cooperar...

Bardos das idades - é tempo de despertar - de contar a verdadeira história aos homes e reerguer as linhagens de justiça que os venham unificar;

Redenção da forte nação de Breogán - daqueles que entendem - para além da mente - o valor do ser, do dizer, do fazer de cada um... e que em justa medida os fazem entrar no templo : vera guarida - do nosso povo ancestral...

Estamos aqui - eternamente aqui - nenhuma das suas tecnologias nos pode afastar: velamos pelos destinos dos eidos livres, mantemos abertas as portas do Fogar de Breogan - para todos aqueles que assim queiram - para todos os que - ousando - demonstrem que merecem aqui ficar;

Um povo que se encontra nas bretemas... e de entre as bretemas sai para convocar - os que a nossa voz entendem: que é no nobre fazer e governar - que se encontram os mais puros desta raça - confundem-se entre os que se perdem e pelo frio ouro se deixam cegar...

Falamos do mais alto, do mais sublime - de pertencer à cultura ancestral - somos os Bardos das Idades - e aqui vimos relembrar: as histórias que pareciam veladas - mas que até as pedras se atrevem a cantar...

Cantam as fragas, cantam as lendas, o luar na lubre e o celebrar - as festas dos maios, as urzes, as fogueiras que saltamos, os casamentos do soajo, os castros laboreiros, o profundo de Lucus de soca de madeira e meda de palha; as carvalheiras de Triacastela, as ravinas de água límpida do Bierzo, a costa brava - costa de morte - que sempre vogamos evocando os tempos passados;

Cantam os novos menires - cruzes de granito na costa; como calados estão os altares - dos sacrifícios das pedras dos povos rudes...

Gente forte e curtida - pela terra, pelo mar: gentes audazes - dispostas a dar de si a alma para a vida da aldeia e do povo preservar...

Eis a nossa raça - a do sangue antigo que nos faz palpitar: saltando ao som da gaita, dançando a muñeira antigo, suspirando a saudade que nos entrelaça num mesmo Fado com Rosalia ao se cantar...


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