domingo, 25 de novembro de 2012

Queixumes dos Pinhos - Eduardo Pondal

Assim - na voz da verde terra verde, deste verde terra nossa - se o Bardo mo permite, traduzirei suas possantes palavras - com vigor valorosas: como as de outrora ditas - pelos antergos que as falaram: poderosas - nestes seus eidos - solo que hoje pisamos, inertes... de tal vigor empossadas que seu eco perdura nas fragas, nos vales e rios cantando-as cheios de graça... nos carvalhos antigos e nas igrejas e praças - virados para a estrela vera que nunca descansa...

Assim - Bardo das Idades - aqui vão alguns dos cantos... recebidos e cantados em voz alta, por quem - sedento - as saboreia como vida que falta ao Luso alento...

Venha de novo - da estrela que nos guarda - o som do nosso consenso: voltem de novo a brilhar as palavras - como lanças voando livres ao vento... seus alvos as serpentes macabras - que reduziram à escravidão o povo à beira mar plantado... os que pensam que a terra tem preço: esta a terra dos nossos antepassados!..

Os que inventaram moedas para dar trinta minas por cada um que se afasta - do doce canto e viril sorriso em honra da terra: nossa mãe sagrada...

Onde estão teus filhos valorosos, tuas mulheres de virtude elevada - os que falar falem récio e as que se entregam uma vez nesta vida feita estrada...

caminhos verde entre nevoeiros antergos - sentido nas rochas da nossa pátria consagrada...

Onde os que respiravam a pulmão pleno - e entre as fervenzas gritavam - seus nomes vivos de duro acento - que a terra imortal seu ser ecoava...

Onde os que - sem medo - olhavam o vil e como vil o tratavam... e da mesma forma reconhecemos o grande e gentil - ainda que de vagabundo nos apareça disfarçado...

Quem calou os vibrantes pinhos - no negrume do esterco do vil metal não temperado... quem enganou os livres viris com imagens de poder que merecem degredo?...

Quem vendeu seu nome por uma réstia do pão que foi sempre nosso? Como o sal de Portugal é da costa que nos fez ser Povo... quem nos vai salgar - se o sal é nosso?...

Que cruz nos ofendeu para vergar o joelho?

Que mal pastor nos levou até a um triste ermo - no que não temos mais que fazer do que trocar nosso tempo em dinheiro - esquecendo o valor e o prazer - de viver e morrer como se fosse este o dia derradeiro...

Que negra sombra nos obrigou a vergar o olhar luminoso longe das estrelas deste  céu nosso?  benignos astros a brilhar - nesta nossa terra mãe - sempre mostrando o caminho seguido desde as eras dos ancestros...

Que vil metal poderá imitar - o brilho singelo das filhas erguidas deste recanto de vida decorado? Que sedas, que púrpuras poderão dar luz aos seus rostos vivazes plenos da paixão pelos dias e horas em viva paz abraçados?...

Que estranha amálgama poderá obscurecer o puro e singelo ser destas nossas gentes de antanho... que monstruoso ser pretende esconder nosso lar e fazer do Bardo em sua casa um estranho?...

Estas são as perguntas - Ó Bardo das idades - que lanço nestas minhas vaguedades... enquanto ouço o eco dos teus passos no som das eras a meu lado... e sinto o peso traidor que corrompe o meu amado povo vendendo-se à traição por três escudelas e um pedaço de pão - por mãos obscuras amassado...

 Sabemos que o Eterno inimigo caminha connosco - e fala a nosso lado... ser hábil e sedutor - que das humanas fraquezas fez negócio e mundo profano...

Mas tu - Ó Bardo - que a redenção apregoas... Brásidas que tua lança enfaixas na boca do Dragão quando sua língua bífida cospe o veneno que nos cega e enevoa...

Diz se as palavras que profere o valente olhando a morte nos olhos... essa morte de se morrer por Illiota ou perdedor em terreno próprio que não admite a derrota... diz tu, que anuncias as palavras pungentes ecoando livremente entre o livre sentir das lançais gentes...

Será que despertarão os dormentes... será que verão que unhas e dentes - os rasgam e aprisionam desde seus tronos dourados em palácios de pó erigidos e sobre os despojos dos povos vencidos levantados?...

Sabemos quem tombou a honra de Breogán... agora - é hora - da sua glória despertar...

Que os povos livres ouçam a tua voz - Ó Bardo que estás entre nós... e com perspicácia - a verdadeira sagácia que nos guia em terreno próprio contra o olhar furtivo e o desejo aquilino dessas serpentes disfarçadas das nossas gentes... então - dá tu: OH BARDO - a voz de comando!...

Canto 45... queixumes da minha terra, queixumes dos nossos antergos... queixumes dos altos pinhos e dos nobres carvalhos:

"Boandanza, saúde,
raza de Breogán,
Teus groriosos destinos,
certo, é doce agoirar,
raza nobre, aunque ruda,
forte no soportar,
a de boa estatura
e de corpo lanzal;
asomellante ós pinos
ben compridos que están
sobr'a materna, rápida pendente
do monte de Brumar;

raza qu'antigamente
ben soía levar
a brillante armadura
de fulgido metal,
e o arco curvo e forte,
mui recio de dobrar,
e o casco que ceibaba
un resprandor igual
a aquel que ceiba tras do escuro monte
a estrela da miñán.

Antr'as espesas brétomas
do tempo que foi ja,
e nos dias dichosos
qu'inda ó mundo virán,
!oh!, cantas cousas nobres
vejo, que comprirá
a estirpe generosa
que, no céltico chan,
fende o molente seo
da boa terra natal,
e aquela qu'emigrante,
deixa o nativo clan,
como soen as píllaras
do nosso litoral,
garridas vagamundas,
cando en bandadas van
rasando as ledas praias
con presuroso afán,
en tecidas compañas sonorosas
virándose ó voar.

Os teus fillos sin conto,
certo, en número igual
às areas da ruda
praia de Barrañán,
que dispersos poboan,
con forte vaguear,
a espaciosa Colombia,
a da forma longal,
que soberbia s'estende
de un a outro mar,
coma inmensa balea
de corpo colosal,
que depois de naufragio
sobre da praia está,
desde os salvages toldos,
de mudabre acampar,
astra os ingentes cornos
do rápido Uruguai,
desde a illa qu'é erma
e nota as perlas fan
astra o frío gandreiro
onde os Andes són 'star,
como negros ferreiros,
qu'en fera rolda están
e cos rudos martelos
o val fan resoar,
forjando nas suas negras e altas covas
o precioso metal,
o lazo recio e forte
e garrido serán
qu'os fillos reconcilien
c'antiga e común nai,
e os bos pobos ibéricos
dispersos juntarán.

Cal vario e radioso,
de monte a monte está
o ledo e curvo iris
sobre do verde val,
e seus formosos cornos
soe ufano amostrar
aos fillos da terra
profético sinal:
tal ti, nobre e comprida,
boa raza lanzal,
nos días da futura,
boa edade, serás
atamento garrido,
forte noo sin rival,
ponte de ledos arcos
qu'e doce contemprar,
e os bos fillos do Luso
e os fortes irmáns,
nun só noo, fortemente,
os dous contringirás.
!Tal é a somellanza sonorosa
do garrido falar!

Si... Dos fillos do Luso,
qu'apartados están
por real estulticia
da groriosa nai,
o pastor, boo e forte,
algún dia serás
qu'a tribu vagorosa
ao deixado clan,
o descarriado gando,
qu'agora errando está,
ao redil antigo
glorioso volverás.

E aquela nobre pléiade
de fortes no loitar,
qu'a constancia heredaran
dos boos e fortes pais,
e nos férreos propósitos
non consenten rival,
que levan no sembrante
a palidez lanzal
do turbulento insomnio
e do rudo pensar,
soldados valerosos
d'afanoso ideal,
somellantes a aqueles
que, con ousado afán,
na ruda Cernagora,
de fortes forte nai,
amostrar fan as presurosas prantas
á caterva d'Agar,

estes a terra verde
do olvido tirarán
e os cativos ultrages
do estraño desleal,
co garrido instrumento,
qu'e nobre gobernar
(quezais antigo adorno
dalgún cisne lanzal),
a prevención ignava,
a estulticia cerval,
e as palabrasde ferro injuriosas
da patria vingarán.

!oh canta luz eu vejo,
que na futura edá
da tua frente sae,
gente de Breogán,
como soe antr'as brétomas
a luz do cabo Ougal,
que cos seus longos cornos
centelleando está
e ós ousados navegantes
é seguro sinal!

(...)

CANTO 75

A voluntade homérica
e propósitos férreos
de facer bos e libres
os españoles peitos,
dos novos ideales
o nobre e forte empeño
non se compren somente
nos límites estreitos
da patria desmedrada
polos antigos erros,
nin deben, non, morrer escuramente
nos ja minguados e cativos eidos

Mais ajudando aqueles,
do futuro sedentos,
qu'o ideal, a raza,
levan nos fortes peitos,
e con nosoutros parten
os bos campos ibéricos,
e nos son semellantes
no sonoroso acento e no bogar lexano
e nos groriosos feitos:
!quebrantemos da serva Lusitania
tamén os duros e oprobiosos ferros!

Nos esquivos combates
e nos fortes enpeños,
qu'ai que ter polos nobres
ideales ibéricos,
non detéña-la pranta
nos límites estreitos
non sigas os hispánicos,
políticos pigmeos;
non olvides, !oh forte!,
os galaicos intentos:
!quebrantemos da serva Lusitania
tamén os duros e oprobiosos ferros!


Sem comentários:

Enviar um comentário