sábado, 24 de novembro de 2012

O Mostrengo - por Mares Nunca D'antes olvidados







Os altos pinhos... desta Brei Bergantinha - cantam com alevosia - imperiosa alegria de quem ouve a voz anterga - briosa -  sempre quente nesta hora fria: evocando o seu canto - canto de Lusíada Lusitânia - mais do que a nunciando: gritando... nesta Europa, outrora ousada... hoje em dia velada pelo Lobo do Frio Inverno... Bergantín de Breogán e Lusitano de Viriato... gritando como Berra o seu BRIOSO hino:

BRADE A EUROPA à terra à terra Inteira - Portugal não Pereceu!...

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou trez vezes,
Voou trez vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-rei D. João Segundo!»
 
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Trez vezes rodou immundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-rei D. João Segundo!»
 
Trez vezes do leme as mãos ergueu,
Trez vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer trez vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quere o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!» 

Assim sendo - neste canto da terra ao mar aberto... de sangue marcado entre espadas e naus navegado... entre cruzes erguidas por pedras nas rochas das costas vazias -  que sempre foram nossas pelo preço das nossas vidas... vem cantar outra vez - como quem canta o FADO - de um povo, de uma terra, de um mesmo canto tantas vezes outrora abafado...





Como nas terras entre Bergantiños e Minho ancorado... entre a Ria Baixa e o Ouro de Lhugh enterrado: proibidos de falar a sua própria voz: comungamos - da mesma mestria de outros tempos o mesmo pão ázimo pelo demo amassado...

E outros, d'outros tempos... nos que o Oceano rugindo - juntos - desbravamos: sentindo os laços de irmãos - em duro acento - nunca d'antes rasgados: coroa, igreja ou poder algum humano ou terreno - puderam fazer ruir ou semelhar como separados...





 Assim - simplesmente - simples terra - NOBRE GENTE - poderão os que mandam contar as suas "trolas" e escrever a cousas "novas" por eles mesmos inventadas... que nós OH NOBRE GENTE labrega... a de mãos e alma calejados - sabemos conservar no rumor dos pinhos e na rugir das fervenzas por nós guardados, o canto dos antigos... a memória dos Carvalhos... as lendas das pedras que dia a dia pisamos...

E - se não for meu sangue e suor o penhor desta sorte - de ser gente do Sul e do Norte - desta mesma terra, minha  Nae, como Nau foi uma a que construímos e largamos - vogando nestas nossas costas da morte feita vida de um mesmo povo por ela criado...

Vamos vogando... na imensidade... fazendo com que as vistas sobranceiras... dos nossos altos pinheiros... feitas alento e desalento - nos façam de novo encontrar o por vir...






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