quarta-feira, 21 de novembro de 2012

As Armas e os BARÕES assinalados...


Resistência dos nobres galegos aos Reis Católicos

Cquote1.svgPero en lo que el arzobispo hizo mucho servicio al rey fue que contra voluntad de todo aquel reino, estando todos en resistencia, recibió la hermandad en Santiago; y en un día la hizo recibir y pregonar desde el Miño hasta la mar, que fue hacer al rey y a la reina señores de aquel reino; y recibió sus gobernadores, habiendo pasado por el estado del conde de Lemos y por todos los otros sin haberlos recibido.Cquote2.svg
— Trecho dos Annales de Aragón escrito porJerónimo Zurita, Livro X)[53].
A nova concepção monárquica conduzida pelos Reis Católicos, o chamado “Estado Moderno”, foi auspiciada na Galiza pelo episcopado (em primeiro lugar pelo arcebispo Afonso Fonseca), bem como por alguns nobres forâneos, particularmente os Pimentel, condes de Benavente, diretamente ligados à monarquia. Contudo, esta nova concepção teve por resultado o choque frontal com os condes galegos. São destacáveis as rebeldias de Pedro Álvarez, conde de Soutomaior (Pedro Madruga), do marechal Pardo de Cela, e dos sucessivos condes de LemosPero Álvarez Osorio e Rodrigo Henríquez de Castro.
Castelo de Soutomaior, onde morou Pedro Álvarez.
Todos eles compartilhavam uma forte oposição militar ao projeto político dos Reis Católicos, projeto que repercutia consideravelmente em estes nobres e, portanto, nos seus parceiros nobiliários e eclesiásticos no país. Este fator dotou-os de suficiente unidade para serem considerados então (também desde fora) uma ação representativa do Reino da Galiza, como entidade autônoma e resistente frente ao autoritarismo monárquico, dada a carência de protagonismo galego neste projeto, hegemonizado pela oligarquia aristocrática castelhana-andaluza e com uma participação muito restringida de elementos galegos do mesmo estamento. A resistência exercida por estes nobres foi adotada por muitos como um caráter inato do reino e das suas gentes. O cronista aragonês Jerónimo Zurita descreveu aquela situação assim:
Cquote1.svgEn aquel tiempo se comenzó a domar aquella tierra de Galicia, porque no sólo los señores y caballeros della pero todas las gentes de aquella nación eran unos contra otros muy arriscados y guerreros [54]Cquote2.svg
A resistência de Pedro Álvarez de Soutomaior ofereceu a maior claridade de motivos políticos e de objetivos, e foi também a de maior envergadura. O confronto do conde contra o arcebispo de Santiago, Afonso de Fonseca II, juntou-se, por extensão, à oposição frontal contra a monarquia de Isabel a Católica. Na guerra de sucessão que segue à morte de Henrique IV apoia a sua filha, Joana (desposada comAfonso V de Portugal) e, portanto, a opção portuguesa frente à aragonesa de Isabel. No decurso da guerra sucessória entre Joana e Isabel, os contendentes estiveram a ponto de alcançar um comprometimento que incluiria a incorporação do reino da Galiza à coroa portuguesa. A vitória militar de Isabel e a subsequente paz de Alcaçobas de Castela com Portugal em 1479, seguidas do exílio do conde de Soutomaior a Portugal (onde foi recompensado com o título de Conde de Caminha) e a sua suspeitosa morte pouco depois, significaram o insucesso das inclinações portuguesistas e atlânticas da Galiza.
Anos depois, em 17 de dezembro de 1483 era executado o marechal Pero Pardo de Cela em Mondoñedo, cumprindo-se sentença pelo Governador dos Reis Católicos na Galiza, Fernando de Acunha. Semelhante final, colofão de uma longa e desproporcionada resistência no cerco do seu castelo da Frouseira e a queda por traição, conferiram dramatismo ao caso, tornando-o tema idôneo para a literatura. Já no mesmo momento do trágico desenlace foi composto um “Pranto da Frouseira”, mitificação imediata da sua figura;
Cquote1.svgDe mîn a triste Frouseyra,
que por treyçon foy vendida,
derribada na ribeyra,
que jamais se veu vencida.
Por treyçon tamben vindido
Jesus nosso redentor,
e por aqueestes tredores,
Mas Pardo meu senhor.
Cquote2.svg
— Pranto da Frouseiraséculo XV-XVI. Anônimo.
Capa da obra "Descripción de la costa del reyno de Galizia", cartografia da costa do reino, realizada por Pedro de Teixeira Albernas por volta de 1625.
O capítulo de Pardo de Cela é incluído na sequência de resistência contra o Estado Moderno e explica a dureza e exemplaridade do castigo, que seria excessivo para uma simples rebeldia sem maior transcendência política, e que despertaria temor em toda a nobreza galega. Em meados dos anos sessenta, quando a luta entre o monarca e os senhores alcançou a máxima tensão, o marechal encontrava-se no cargo de prefeito da vila de Viveiro, nomeado pelo procurador do Concelho, no que se juntam o legitimismo monárquico e o movimento emancipador urbano. Pardo de Cela estava portanto situado no mesmo bando que surgiriam os Irmandinhos.
Um ano depois, em 1465, colaborava na supressão do senhorio de João de Viveiro sobre essa vila como membro do concelho e em nome de Henrique IV. Uma vez vencidas as irmandades, o choque de Pardo de Cela com membros relevantes da igreja mindoniense e, por fim, com os Reis Católicos, era continuação lógica, já a nível particular, daqueles alinhamentos anteriores, pois a crescente hegemonia eclesiástica e o forte intervencionismo monárquico nos concelhos, fenômenos próprios do Estado moderno, erodiam as bases da sua posição social e política.
Finalmente, entre 1483 e 1485, as respectivas rebeliões de Pero Álvarez Osorio e de Rodrigo Henríquez de Castro, sucessivos condes de Lemos chegavam ao seu fim. O primeiro falecia de morte natural, deixando pendente a resolução da discrepância; o segundo foi cercado e derrotado pelos reis de Castela e Aragão. Com esta última rebelião anulava-se toda oposição da nobreza frente à monarquia dos reis católicos no reino da Galiza. Além disso, a derrota de Rodrigo Henríques implicou a remodelação do mapa da Galiza, deixando O Bierzo de fazer parte do condado de Lemos e consequentemente da Galiza.
Sufocada já toda oposição no reino, em 1486 os Reis Católicos visitavam Galiza, sendo o símbolo do fim de uma época, da Idade Média na Galiza e o pleno domínio régio na Galiza, que o cronista Jerónimo Zurita chamaria “domar aquella tierra de Galicia”[54].
O reino entrou em outra fase, pontuada pela extinção política dos setores sociais capazes de conduzir uma dinâmica própria, tornado num território periférico da monarquia hispânica. Supeditado a instituições alheias, introduziram-se organismos novos desde fora (audiênciasanta irmandade, governadores, corregedores, inquisição, congregação monástica de Valladolid, etc.), nutridos maiormente com funcionários públicos estrangeiros e contando com o apoio dos setores autóctones intermediários e subalternos.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_da_Galiza


Sem comentários:

Enviar um comentário