quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Galaicos Portugueses - o Norte Humilha Napoleón


“E se eles voltam!” era o dilema português, após Junot ser expulso em Agosto de 1808. Um dilema centrado em preocupações militares, onde sobressaía a ausência de um exército regularmente organizado e preparado para enfrentar de novo os franceses.

Eles voltaram! E o resultado foi a mais curta invasão napoleónica, quer no tempo quer no espaço, em que a violência do confronto foi característica dominante. Invadir Portugal pelo Norte, tendo o Porto como objectivo intermédio, revelou‑se um erro, só possível de explicar pela ignorância relativamente ao temperamento das suas gentes, o apego à terra e a relutância em colaborar ou acomodar‑se perante intrusos ostensivos; ignorância que se estende à orografia, ao clima e aos recursos alimentares e de alojamento da região, agrestes nos dois primeiros casos e escassos nos dois últimos.


A realidade é que a exportação das ideias liberais francesas mergulharam o continente numa guerra ideológica, a que Napoleão emprestou uma racionalidade política assente numa luta de soberanias. De permeio, Portugal viu‑se posicionado no caminho das grandes potências, face ao conflito que envolvia a Inglaterra e a França.

Divide e vences... ou - aprende o que separa os teus inimigos, encontra os activistas internos certos e prende fogos que ateiem as populaças contra os seus governos... ou faz cair as soberanias através de infiltrados apátridas: a noção de"nação mundial" e gente sem escrúpulos para atingir fins ideais - um ser que esquece as raízes perde a identidade e transforma-se num predador perigoso...




Decreto do Conselho de Regência (Dezembro de 1808)

“(…) Sou servido determinar que toda a Nação Portugueza se arme pelo modo que a cada hum for possível: que todos os homens, sem excepção de pessoa, ou classe, tenhão huma espingarda, ou pique, e todas as mais armas que as suas possibilidades permitirem. Que todas as cidades, villas, e povoações se fortifiquem, para que, reunindo-se aos seus habitantes todos os moradores dos lugares, aldêas, e casaes visinhos se defendão alli vigorosamente quando o inimigo se apresente. Que todas as companhias se reunam nas suas povoações todos os domingos e dias santos para se exercitarem no uso das armas que tiverem e nas evoluções militares, compreendendo todos os homens de idade de quinze anos até sessenta anos (… )”





Depois de ocupar Madrid e subjugar Castela, Napoleão centra a sua preocupação na ameaça austríaca, que o impele a regressar a Paris33. Uma vez que pretende evitar uma guerra em duas frentes, precisa de anular definitivamente a ameaça peninsular. Assim, logo que toma conhecimento da derrota de John Moore dá instruções imediatas para a invasão de Portugal.



A 28 de Janeiro, o Marechal Soult recebe em Ferrol o plano de invasão do imperador, que contemplava o empenhamento de três Corpos de Exército constituídos por cerca de 54.000 homens. A ofensiva previa um ataque principal (II CE de Soult), uma força de apoio (Divisão Lapisse), uma força de «diversão» (I CE de Victor) e uma força de cobertura (VI CE de Ney), distribuídos da seguinte forma:
– O Marechal Soult, com cerca de 23.000 homens, atacava segundo a direcção de Santiago de Compostela‑Tuy, atravessava o rio Minho e marchava de seguida para o Porto, que devia ocupar, o mais tardar, a 5 de Fevereiro. Numa segunda fase, marchava em direcção a Lisboa, aí hasteando a bandeira tricolor francesa, nunca depois de 16 de Fevereiro;
– Quando Soult atingisse o Porto, o General Lapisse, no comando de uma Divisão posicionada em Salamanca e em ligação com o CE de Victor, mandava avançar os 8.000 homens da Brigada de cavalaria de Maupetit para Abrantes, de forma a proteger‑lhe o flanco esquerdo;
– Enquanto isso, o I CE de Victor, bivacado em Mérida e compreendendo 30.000 homens, tinha a missão de ocupar Sevilha e Cadiz e, se o ataque de Soult sofresse contratempos, devia invadir o Alentejo, reunir‑se às forças de Lapisse e avançar para Lisboa;
– Entretanto, o VI CE do Marechal Ney, com 16.000 soldados, finalizaria a subjugação da Galiza e garantia as comunicações com o contingente de Soult.





Do outro lado da fronteira, o General Bernardim Freire de Andrade organizava a defesa, aproveitando as vantagens do rio Minho no percurso que separa Portugal da Espanha (65 km) que, com as margens apoiadas entre o oceano e a serra da Peneda, era uma excelente orla anterior da zona de resistência, favorecida à época pelo caudal que as chuvas dos últimos dias tinham propiciado36. Procurando ampliar as vantagens, Bernardim Freire mandou retirar para a margem esquerda do Minho todos os barcos que havia no rio, posicionou tropas e alguns populares ao longo das margens e instalou o seu quartel‑general ao centro da linha, em Ganfei (próximo de Valença).


O trajecto Valença do Minho‑Orense revelou‑se um tormento, devido aos péssimos caminhos, pobreza da área e as continuadas acções de flagelação que lhe moveram as populações minhotas, infantes do Regimento de Infantaria 12 que, comandados pelo Tenente João de Almeida de Sousa e Sá, se tinham infiltrado na Galiza, e as tropas do Marquês de la Romana37, que operava com cerca de 8.000 homens perto de Orense. 

As dificuldades foram de tal ordem que Soult foi obrigado a permanecer nove dias em Orense, para se desfazer dos feridos, descansar as tropas e reuniu artilharia e meios logísticos (gado e solípedes para os carros das bagagens). Neste período, a Cavalaria de Franceschi efectuou reconhecimentos à estrada de Monterey para Portugal.

Glória e Honra aos "não colaboracionistas":

A liberdade vem de dentro - e não é imposta -nasce no momento determinado pelas nações, pelas suas circunstâncias e passa pelo exemplo corajoso e desapegado dos voluntários anónimos e baixas patentes que estão com as gentes... e com as gentes se batem... e entre elas tombam - desconhecidos para a história dos grandes... lajes de pedra descolorida que os grandes mandam reerguer sem glória ou renome para pavimentar as ruas pelas que todos os dias passamos.

Honra aos gloriosos ancestros que sabem o que é ser libre - em liberdade lutando - em liberdade partindo ou ficando - sem jugo maior do que aquilo a que a sua moral obriga.

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