quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

FALA!

Pior do que a dor de estar subjugado é ver e ouvir injustiça - e perante a injustiça - ficar-se calado;





Melhor do que o mel - triste fel do que come a gosto quando outro padece por se ter erguido e falado -


É estar em paz com o que a alma pede, com o que a voz clama e o agir encobre baixo a humilde calma

Do que vai contando a história em gestos - sem rumor nem glória - apenas perseverando assim enriquece:

Não o próprio bolso, o renome ou atenção falaciosa dos minguados: que apenas vêm gigantes nos seus próprios gestos velados...

Não as arcas dos estados -hoje buracos de bolsos deslavados - escorrendo qual rio briosos, para outros bolsos noutros lados...

Não os livros e as estantes, as prateleiras envidradas: de troféus e glórias esgotadas - dos ecos frios e das memórias vagas... 

Não dos repetidos sons - de ousar vazios - não os escuros tons - de hinos obtusos há muito esquecidos...

Falo - e tu, FALA! - para que desta fala se faça um canto e do canto um hino à harmonia, à vida, à alegria:

de se reconhecer livre, erguido e com estima, no reflexo de mil e uma outras vozes, outros brilhos em altos sonhos, briosos cantos e outros olhos:

espelhos saudosos da minha mesma face;

Falo - e tu, FALA!

daquele que enobrece - com silencioso gesto (alta prece)- as vidas daqueles por onde passa 


Eduardo Pondal: poema "A Fala"

Nobre e harmoniosa
fala de Breogán,
fala boa, de fortes
e grandes sen rival;
ti do celta aos ouvidos
sempre soando estás
como soan os pinos
na costa de Froxán;
ti nos eidos da Celtia
e co tempo serás
un lábaro, sagrado
que ao triunfo guiará,
fala nobre, harmoniosa,
¡fala de Breogán!

Ti, sinal misterioso
dos teus fillos serás
que polo mundo dispersos
e sen abrigo van;
e a aqueles que foran
nunha pasada edá
defensores dos eidos
contra o duro román
e que aínda cobizan
da terra a libertá,
nun pobo nobre e forte,
valente, axuntarás,
¡oh, fala harmoniosa,
fala de Breogán!

Serás épica tuba
e forte sen rival,
que chamarás aos fillos
que aló do Miño están,
os bos fillos do Luso,
apartados irmáns
de nós por un destino
envexoso e fatal.
Cos robustos acentos,
grandes, os chamarás,
¡verbo do gran Camoens,
fala de Breogán!

EDUARDO PONDAL/ ROSALÍA DE CASTRO/ CURROS ENRÍQUEZ

Como uma NAÇON é impedida de falar... e - ainda assim - FALA!

Sem comentários:

Enviar um comentário