Esta terra arde…
como uma fogueira
Um sonho parte
Escondido
em qualquer parte
Baixo as camadas
Do solo frio
Nesta terra guardado
Pelo hábito vivido
Pela veste que se veste
Sempre sobretudo rasgado
Esperando o fim do Estio
O abraço a algo novo – vivo
Primaveras mais cheias
De flores vivas
De perspectivas
Diversas, alheias
Às moedas inteiras, divisas
Às cornijas, às pequenas incisas
De feridas tão feias…
Esperando ouvir palavras amigas
Tão vivas
Tão plenas
Como as que outrora se diziam
além dos pactos e comitivas
Sim entre abraços de gentes amigas
Mais além do que se assinava,
muito mais do que se pagava
Ou apagava com pena de intenções
Como as antigas
Intensas vozes vivas
De Rapazes, Raparigas
Noites vivas sempre festivas
Vidas tão cheias, da chama
Que a escuridão apaga
Como seus próprios corações
Repletos de sonhos e ilusões
Repletos de Histórias e tradições
Cheios de mistérios, de recantos
Escondidos ou velados,
para jogos vivos por locais
ou profanos - sempre prezados
momentos nos que o tempo
Tinha tempo para ser apreciado
E mais não pesado,
medido ou apagado
Por essa vida falo
Dessa vida compartida
entre grego e troiano
A que por dentro dizia
O quanto ainda temos a dar
Mano a mano – de irmão a irmão,
de hermano a hermano - a criar
E que aqui
Se plantou?
E que
por aqui
se ficou?
A mais fina flor
Nasceu por louvor
Num certo dia
Madrugada do além
Plantadas entre nós
Não se sabe bem por quem
Vinda das terras de ninguém
Lugar de gentes livres também
Gentes com sonhos a concretizar
Eis um lugar de sonhos vivos
Prontos – de novo - a se plantar,
Sementes da Vida Plena, Luz Vera
Portando em si o Raio de Sol e Luar
Fendendo as sombras e o medo de duvidar
Entrando pela janela que se pretendia fechar
Esperança a se espelhar
Nos rostos de faces esguias
Sobre os ossos dos mortos
Que em vida evitavam se mostrar
Vida nova “neste”,
“esse nosso” lugar
Um lugar
De gentes
Que esperam
Que anseiam
Quem assim se libera
Nossa nova forma verdadeira
forma de ser, forma do Ser
Nosso verdadeiro centro e força
Aqui, assim, em ti e em mim
A transparecer, a se mostrar
Sem se notar a partir
Sem se ver a regressar
Essência de Amar sobre o querer do poder
Essência do Ser indo mais além do estar,
Do ganhar
Do perder
Do ir… podendo não mais voltar
Do vogar podendo até naufragar
E indo, na noite escura inflamar
O que por dentro
Desde sempre
Nos esteve a chamar
E no coração das sombras
Fogo de vida nova plantar
E a sombra mais escura
Essa assim também iluminar
De Vida Nova o escuro Inverno incendiar…
Para quem quiser ver, acolher e integrar
Primavera Vera, na vitória das flores a plantar
Sobre o gelo ainda vigente,
semente que rasga – pungente
desde o humilde chão - vida em
turbilhão
O duro e férreo coração que prende
O nosso ser de vida/semente
Que tem de ser igual a toda a gente
Por decreto de mão, por obrigação
Sonho de irmão a irmão
De abraços perdidos, reflectidos
Entre as noites dos labirintos vivos
Quem vemos e mais não sentimos
Quando saímos e vamos
E não sabemos se vivos
Voltamos…
E podemos começar a voar
Integrando-se nos ventos
Voando por sobre o Mar
Suavemente se elevando
Pra o nosso antergo lugar
Entre os ventos ecoando
Palavras de bem-estar
Do querer
De se entregar
De espairecer
O medo de mais não ser
E assim sendo
Voltar a estar
Sopro de vida nova cantando
assim se mostrando, ecoando
no entanto, entre tanto
ser sem se ver ou tocar
estando sem se mostrar
sem se perceber
mobilizando
aqueles
aquelas
que assim já ouvem,
mesmo sem saber bem o porquê
esse algo além da ânsia que diz:
vai e sê, germina a semente tua minha
a que deixaste esfriar ou enrijecer
E quem vai mais além e “vê”
Assim, sem mais já o “É”…
deixando atrás o fundamento
da dúvida, do tormento
de não se saber bem que se é
Assim possa
Esta luz pura
Branca de alvura
Este arco-íris
de vidas devidas
a se transparecer
Como Sol que entra pela vidraça
Que a sombra atravessa, e desfaça
Por muito densa que seja a ameaça
Assim se esvai, e se vai como fumaça
Que o vento leva, no tempo que passa….
E abraça, a vida outrora baça
A que se julgava perdida,
sem esperança, desvalida
longe da graça de ser Vida
entre a vida que em nós grassa
Despertando agora
para se iluminar
pelo nosso vero nome
nos chamar, despertar
momento de lembrar
quem somos
de onde vimos
que sucedeu
que aconteceu
quem se perdeu
quem se escondeu
quem se vendeu
e quem se esqueceu
para não mais voltar
e agora é a chamada
é chegada a hora
de pagar:
de se erguer e honrar
o que jurou defender
e assim, em vida, manifestar
voltar
e assim
o “nome”
salvaguardar
neste “nosso lugar”
– além do tempo
do sentimento
de evocar
vai suceder vida nova
neste “nosso novo lugar”
esse “vale” que mais não cale
Tanta e tanta gente
Que quer e sabe
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